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Incluo entrevista Fátima Minetto- O preconceito, a segregação e a falta de informação são muito danosas para todos.

dudu vitoria e fatima

 

O portal Incluo nasceu para incentivar a conexão e troca de experiências dos interessados na temática diversidade e em seu primeiro ano de existência o foco começou com a síndrome de down.

Já temos mais de 300o pessoas cadastradas e muitos profissionais e estudiosos sobre o tema. Se ainda não fez seu cadastro , clique aqui.  A nossa entrevistada já esta cadastrada.

No post de hoje publicamos a entrevista que fizemos com a professora Fátima Minetto que é Psicóloga, Doutora em Psicologia. Mestre em Educação. Especialista em Educação Especial. Terapeuta familiar Sistêmica. Professora Adjunta do Departamento de Teoria e Fundamentos da Educação da UFPR e do Programa de Pós Graduação em Educação da UFPR, na linha de pesquisa Cognição, Aprendizagem e Desenvolvimento Humano. Com 29 anos de experiência como professora em escolas no ensino fundamental. É pesquisadora no Laboratório de Estudos sobre Atenção e Estimulação Precoce de Bebês (LABEBÊ), o qual conta com a parceria de pesquisadores do Grupo de Investigación en Atención Temprana, da Universidade de Murcia, Espanha. É membro da equipe interdisciplinar do Ambulatório a Síndrome de Down do Hospital de Clinicas desde 1997. Atua principalmente nos temas: família e escola, prevenção e promoção do desenvolvimento e educação de crianças com necessidades especiais, praticas educativas parentais, inclusão escolar e suas interfaces, intervenção precoce. Coordena um Programa de Atenção a Criança com Risco Estabelecido – PRACRIANÇA. É autora do livro: O currículo na escola inclusiva: entendendo esse desafio. da editora InterSaberes, dentre outros materiais didático-pedagógico, artigos e capítulos de livros. 

Entrevista com Fátima Minetto

  •   Fátima, tudo bem? Como começou a atuar com a temática diversidade?

Ah,  há muitos anos na década de 70. Na verdade comecei muito cedo com a alfabetização de adultos (antigo Mobral), eu tinha 15 anos na época fazia magistério e foi ali que me deparei com adultos que não conseguiam se alfabetizar. Isso foi perturbador, saber que a minha boa vontade em ensinar tinha uma barreira que eu desconhecida. Depois os anos se passaram e continuei estudando essa área, atuei em escolas especiais por anos, e com o tempo fui absorvendo e entendo a diferença.

  • A escola para todos é um sonho ou pode se tornar realidade?

Vamos filosofar um pouco… pode ser realidade para muitos já. Se pensamos a escola sobre o enfoque da complexidade, ela nunca vai ser perfeita nem estável. A escola é um espaço relacional, e por isso pode ser vista de muitos ângulos. Se ficarmos esperando a escola ser perfeita … não haverá escola. A escola é um produto social e precisa, como tudo, ser transformada a cada dia. A resposta da pergunta: sim, acredito que a escola possa ser para todos, acredito que para alguns, por alguns momentos, ela já é. Mas isso é pouco. Esse movimento está lento pq desistimos diante dos obstáculos. Enfraquecemos quando não nos organizamos para ser um TODO forte para o enfrentamento das resistências. A mudança é algo que perturba e todos nós se pudéssemos… buscaríamos a estabilidade. Então, realidade da escola para todos perpassa pela nossa percepção de homem e mundo.

  • Em sua trajetória como enxerga os avanços em relação a temática diversidade / inclusão?

Vou te contar que ouvi falar de “inclusão” 1989. Isso me causou muito estranhamento, angustia e confusão. Vinha de uma formação Newtoniana, Cartesiana que resultou na criação das escolas especiais, como poderia entender um pensamento tão diferente? Mas, entender a diversidade, a diferença, e a inclusão me tornou uma pessoa mais forte e ao mesmo tempo mais tranquila comigo mesma. Saber da imperfeição e da diferença como algo inerente ao ser humano acalmou meu coração que corria em busca de uma perfeição ditada por outros. O paradigma inclusivo vai muito além de fazer a matricula na escola regular, é transformador. Muda nosso olhar sobre nós mesmos, sobre os outros, sobre a vida. É uma nova relação que se estabelece com os que nos amam (Como? Quando? Onde?) e com os que nos odeiam (Como? Quando? Onde?)…

  • Em sua convivência com pessoas com síndrome de down quais foram seus maiores aprendizados?

Eu aprendi muito, sou eternamente grata por me ensinarem a plenitude na simplicidade, a perfeição na imperfeição.

  • Sabemos que uma das características das pessoas com Síndrome de Down, além das características físicas, é um atraso no desenvolvimento. Através da sua experiência como enxerga a inclusão hoje em dia?

 A sociedade precisa saber é uma condição genética e que o desenvolvimento segue seu curso se houver recursos adequados. O limite não existe,  a deficiência está na nossa cabeça, e se olharmos só para ela é isso q vamos ver. O preconceito, a segregação e a falta de informação são muito danosas para todos.

 A inclusão começa em casa. O entendimento do respeito as diferenças, considerando do que é direito e o que é justo. Assim, sempre que forem necessários as flexibilizações do currículo devem ser feitas. Em alguns casos específicos pode haver necessidade de profissional de apoio. Mas, de forma geral com acompanhamento de contra turno adequado e flexibilizações curriculares produzem um bom desenvolvimento.  A inclusão é cada dia, para cada pessoa, para cada escola. Não há receita.

  • Existe um mito que ainda esta muito presente na sociedade: “ Se falarmos sobre educação sexual , só vai incentivar para que as pessoas com down tenham relações sexuais precoces”. O que pensa disso?

Penso que isso é insano. Negar algo inerente ao ser humano. A negação traz sintomas. O conhecimento só organiza os sentimentos. Teremos problemas de sexualidade quando se cria uma pessoa “assexuada”, quando se sonha um adulto sem uma parte importante que lhe pertence. A sexualidade não precisa ser um problema. Muitas vezes essa dificuldade em lidar com a sexualidade do deficiente perpassa as dificuldades e pré-conceitos que são próprios deste tema e que assombram muitos. Esse é um mito que precisa ser entendido e derrubado.

  • Como enxerga a sexualidade das pessoas com síndrome de down?

Eu enxergo como saudável e possível de ser vivida de diferentes formas, formas que tragam bem estar sem que isso precise ser um problema para ele, sua família e para a sociedade.

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  • Muitos jovens nos falam que ninguém nunca conversou com ele sobre sexualidade. Tem alguma forma ou sugestão para iniciar este importante diálogo?

Esse é um assunto que é pouco falado, e muitas famílias ignoram isso. Os pais geralmente pensam que se não falar não estimulam, mas o mundo estimula. Quanto mais falamos, explicamos, lidamos com os sentimentos. Pq se eu não falar o “mundo” vai falar e isso abre uma parte perigosa: a vulnerabilidade. Se eu não falo alguém fala e fala o quê? O que vão ensinar se eu não ensinar? A dica é ser “perguntável”, se a criança ou o adolescente não vê nos pais uma possibilidade de falar de suas inquietações… vai perguntar a outro.

  • As vivências sexuais e afetivas dos filhos são encaradas com muita preocupação pelos pais, principalmente em relação aos elementos sexo feminino. Tem medo da gravidez e de abusos sexuais, tendo uma atitude de superproteção. Qual sua experiência e/ ou opinião em relação a este assunto?

Preocupações reais e verdadeiras para todos os pais. Mulheres estão historicamente mais vulneráveis. A única solução é a informação atualizada, a busca de alternativas que diminuam a vulnerabilidade. Hoje há muitos recursos. Se há uma superproteção muito grande, um pequeno espaço pode resultar em um grande problema. Os filhos tem q aprender a ver o perigo, e nós temos que mostrar onde o perigo se encontra.

Ping pong com Fátima Minetto.

 

fatima reviver

 

Um sonho?

Mais amor menos guerra

Ser professora é?

Aprender  todos os dias.

Ensinar é?

Dar de si.

Um filme inesquecível?

“O oitavo dia”

Um livro que indica?

“Quem eu seria se pudesse ser” Montobio/Lepri

Inclusão é?

Respeito a diferença.

Gostariam de deixar algum recado para todas as famílias, amigos e leitores de nosso Blog?

A família precisa ser lugar de crescimento e desenvolvimento para todos: pais e filhos. Para isso temos que nos permitir moldar, inovar, transformar. Ter um filho com alguma diferença pode ser a melhor coisa da vida, se soubermos as delícias da diversidade e a fortaleza do amor.

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